Dias
especiais merecem reflexão especial. Amanhã é dia dos namorados. Então, fazemos
uma especial homenagem a quem amamos e em quem apostamos nossas vidas. Pequenos
gestos podem apresentar grandes significados. Romantismo também faz parte da
vida. E dá leveza e intensidade às relações.
O
dia dos namorados nos toca a todos. A fase do namoro é um momento inesquecível
da vida. Traz consigo a intensidade da descoberta, a novidade de quem se
conhece, o olhar cheio de paixão, a companhia que não vê as horas passarem, o
passeio com um modo diverso de olhar, a delicadeza dos gestos, a alegria de
ouvir e falar, o envolvimento cada vez mais profundo, o vestir e o arrumar com
o desejo de bem impressionar, a esperança de um dia esse amor se eternizar.
Tudo isso dá força para superar os desafios. Não é fácil harmonizar as diferenças. Aos poucos, elas se revelam no tom da voz, nas inseguranças recíprocas, nas mútuas cobranças, na oscilação dos humores, nos bloqueios pessoais, nas mais íntimas frustrações, nos cansaços e rotinas, nas expectativas frustradas. Definitivamente, namorar não é fácil. Requer tempo, disposição, generosidade, dedicação. Exige intenso diálogo, abertura ao outro, respeito às diferenças, paciência para caminhar junto.
Além
da paixão e do amor, namorar é essencialmente conhecer o outro. Conhecer seus
gostos, seu pensamento, suas atitudes, sua visão sobre a vida. Namorar é chegar
ao coração do outro. E ritmar a cadência do próprio coração com o coração de
quem se ama.
Namorar
é transformar o próprio olhar e o sentir. É perceber de um modo diverso a brisa
e o orvalho, a beleza das flores, o encanto das estrelas. E a lua cheia, essa
não pode faltar a quem ama. Aquele brilho inspirador, cheio de poético
silêncio, se traduz em mil linguagens. Então, namorar também é alcançar certo
degrau interior. É desenvolver uma disposição para a contemplação. É ver com os
olhos da alma. É alcançar outro nível de profundidade. Então, namorar é um bem!
Todos
têm nossas histórias de namoro. As minhas, guardo-as vivamente na memória. E,
também, numa maleta cheia de cartas de amor. Foram escritas à mão, diariamente
e a longa distância. Era, então, o único modo de se comunicar que estava ao meu
alcance. Mas traduz o essencial de todo o namoro: a comunicação, o mútuo
conhecimento, a afirmação das identidades, a abertura para construir um caminho
em comum, o interesse efetivo pelo outro.
Como
tudo na vida, também o namoro precisa de cuidado. As precipitações, os ciúmes
doentios, a possessividade, o egoísmo a dois, as provocações, as brigas, os
desentendimentos, tudo isso pode se tornar perigoso e estragar vidas. Daí a
preocupação dos pais, o alerta dos educadores, a cautela nos passos que se dá.
Fora
isso, namorar é tão bom! Sempre valerá a pena ser reconhecido como um
enamorado. Sempre será importante namorar, também quando o corpo envelhecer, os
cabelos embranquecerem, as energias se esvaírem e a solidão beirar a soleira da
porta.
Talvez,
num momento tão difícil de fragmentação das identidades, namorar tenha se
tornado sinônimo de mera relação sexual, ou de ficar, ou de não estar sozinho.
Vivemos essa esquisita condição psicocultural. Experimentamos o colapso da
hierarquia das identidades devido à massificação. Tornamo-nos incapazes do
silêncio e das pausas de introspecção e, quando sozinhos, aquietamos nossas
interrogações com o suporte de aparelhos móveis para chamar e sermos chamados.
Criamos simulacros de comunidades e de relacionamentos virtuais, em que é fácil
de entrar como também é fácil de ser deletado e abandonado. Desenvolvemos redes
de conexões e de relacionamentos, transformadas em divertida aventura e em
tarefa exaustiva. Optamos por viver em espaços sem definição, em que o contato
é infinitamente próximo e infinitamente distante. E tendemos apenas a ficar,
construindo relacionamentos baseados numa convivência frágil e efêmera. Se esse
admirável mundo novo fosse uma autêntica resposta ao desejo de felicidade, não
estaríamos sob tão grande ameaça da depressão, do suicídio e da fuga nas
drogas.
É
preciso voltar a namorar. Não ao jeito de um passado superado. Nem ao modo do
presente dilacerado. Mas ao estilo do futuro, daquilo que é o sonho da alma
humana e desejo profundo do coração.
Wolmir
Amado*
Portal CCNS Comunicação Com Nossa Sociedade
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