O
Rio Grande do Norte é o Estado com o maior índice de abandono escolar do país.
Ano passado, 19,3% dos alunos matriculados no ensino médio, público e privado, abandonaram
a sala de aula antes de concluírem os estudos. Greve falta de professores e conteúdo
programático desinteressante para a classe estudantil é alguns dos fatores
apontados por gestores e especialistas da área que podem explicar a posição no
ranking. Além do abandono escolar, o RN é destaque no índice de reprovação.
Nesse quesito, no mesmo período, o percentual foi de apenas 8% - o quinto menor
do Brasil.
Os
dados fazem parte do Censo Escolar 2011 que foi divulgado, essa semana, pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O estudo é utilizado pelo Ministério da Educação (MEC) para formulação de
políticas e programas. De acordo com a titular da secretaria de Estado da
Educação e da Cultura (Seec), Betânia Ramalho, o resultado servirá como
norteador de futuras ações. "Uma das nossas tarefas é ter controle e
conhecimento da situação real do nosso ensino. O Censo revela muitos detalhes
que vão nos auxiliar na administração. Temos que correr atrás do
prejuízo", colocou.
Em
2010, a taxa de abandono escolar no RN, do ensino médio, foi de 17,3%. Para a
secretária, o aumento desse percentual, no ano passado, pode ser explicado por
dois fatores: greve e currículo escolar. "Tivemos várias greves, uma em
cima da outra, que trouxeram um prejuízo imensurável para a sociedade. O aluno
simplesmente abandonou a escola porque não havia o que fazer nela. Além disso,
é preciso analisar o currículo das escolas. Muitos alunos não se sentem
atraídos pelo o que é oferecido e preferem seguir outros rumos".
A
coordenadora pedagógica e diretora do Instituto de Desenvolvimento da Educação
(IDE), Cláudia Santa Rosa, afirmou que é preciso cautela ao analisar os
números. "Ainda não estudei os números do Censo. É preciso um estudo mais
aprofundado para saber quais os motivos para essa evasão tão grande",
disse. A professora disse ainda que a estrutura do ensino médio ofertada pelo
Estado pode explicar, em partes, a evasão escolar. "Como se interessar por
uma escola sem o quadro completo dos professores? O aluno fica em dúvidas se
vale a pena estar dentro de sala".
Com
relação ao índice de reprovação, o RN é o quinto Estado com a melhor pontuação,
8%. O ranking é liderado pelo Amazonas (6%), seguido do Ceará (6,7%), Santa
Catarina (7,5%) e Paraíba (7,7%). Para Cláudia, é preciso cruzar os dados para
deslumbrar a realidade do quadro. "Muitos alunos abandonam a escola antes
de serem reprovados. Estão num ano complicado, com notas baixas, sem aulas,
então desistem de prosseguir antes mesmo da reprovação". Segundo o Inep, a
média de reprovação do país subiu nos últimos anos e hoje a taxa é de 13,1%.
Para
alguns, a baixa reprovação pode ser sinal de que há uma avaliação mal feita
pelos professores. Imagina-se que o docente aprova o aluno mesmo que não haja
aprendizado de fato. Betânia Ramalho
discorda da ideia. "Estou sempre do lado dos professores. Eles são
responsáveis e criteriosos. Acontece que os alunos que não desistem, que
permanecem em sala de aula, têm um objetivo de vida e lutam para isso". No
entanto, a secretária reconhece que as avaliações nem sempre podem ser
reconhecidas como parâmetro confiáveis. "O ensino não chega a níveis de
excelência. Temos as avaliações para um diagnóstico. Não se podem
supervalorizar os números".
Na
outra ponta do estudo, os Estados com os maiores percentuais de reprovação são:
Rio Grande do Sul (20,7%), Rio de Janeiro (18,5%) e Distrito Federal (18,5%),
Espírito Santo (18,4%) e Mato Grosso (18,2%). O Censo Escolar traz ainda a taxa
de aprovação. Santa Catarina, com 84,5%, Amazonas com 83,6% e Ceará com 81,8%
são os Estados mais bem posicionados. O Rio Grande do Norte, nesse quesito, tem
taxa de 72,7%.
Seec
aposta na volta dos alunos
Em
posse dos números do último Censo Escolar, a secretária Betânia Ramalho
pretende implantar programas que revertam o quadro de abandono das salas de
aulas pelos alunos. Nos próximos dias, a Seec deve lançar a segunda etapa do
projeto "Conquista RN" realizado em parceria com a Fundação Roberto
Marinho. "É uma tentativa de chamar aqueles alunos que não terminaram o
ensino médio. Eles podem, em 18 meses, encerrar essa etapa do ensino",
explicou.
Para
Cláudia Santa Rosa, a iniciativa é um paliativo que não resolve o problema por
inteiro. Segundo a professora, há vários incentivos em todo país para que o
aluno permaneça na escola, mas, mesmo assim, os números não são favoráveis.
"A escola é pouco atrativa. É preciso alterar o projeto pedagógico para
que o jovem tenha desejo de permanecer estudando. Só com qualidade é que
mudaremos os índices. E isso deve ser feito pelo Poder Público. O desafio é da
gestão pública. Todos nós pagamos pela educação e queremos que ela aconteça com
qualidade", pontuou.
A
secretária de Educação criticou a posição dos professores com relação à greve e
acredita que os números poderiam ser diferentes caso não houvesse tantas
paralisações. "Enquanto houve um aumento na taxa de reprovação na maioria
dos Estados, o RN conquistou um bom resultado, apesar da greve nefasta que
enfrentamos no ano passado. Embora não tenha influenciado decisivamente o
número de reprovações, é preciso ressaltar que a greve causou sérios efeitos na
taxa de abandono escolar". Até hoje, segundo Betânia, a Seec contabiliza
os prejuízos causados pela última greve.
O
projeto "Conquista RN", segundo a secretária, já é realizado em
algumas escolas, especialmente no período noturno. Nas aulas, são utilizados
materiais didáticos diferentes bem como o uso de técnicas audiovisuais de
ensino. "Vamos inaugurar a segunda etapa do projeto em breve. No total,
teremos 40 salas de aula com esse projeto".
Roberto Lucena - repórter
*Tribuna do Norte/RN
*Tribuna do Norte/RN
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