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Mortes em escola do Rio refletem banalização da violência, dizem psiquiatras


Para especialistas, testemunhas do ataque terão dificuldades em superar trauma

A banalização da violência no cotidiano escolar e fora dele pode ajudar a explicar, na opinião de psiquiatras ouvidos pelo R7, o que leva um jovem antissocial, possível vítima de bullying na infância, a extravasar sua raiva de forma tão extrema ao premeditar e executar um ataque à sua antiga escola na zona oeste do Rio. O massacre deixou ao menos 12 estudantes mortos e mais de dez feridos. O atirador se matou após ser baleado por um policial dentro da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo.

Especialistas em comportamento infantil ressaltam que o bullying, situação em que a criança ou adolescente é vítima de violência psicológica ou física de forma freqüente, sempre existiu, mas o aumento da agressividade nesses episódios é um fenômeno novo e preocupante.

Para o chefe do serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Marco Antônio Alves Brasil, é comum que pessoas se inspirem em situações que já aconteceram e que frequentemente são retratadas na televisão ou no cinema. Ele afirma que a sociedade “promove e é cúmplice” da violência.

- Todos nós temos uma parcela de culpa, pois há uma apologia da violência. A quantidade de cenas de violência que vemos cotidianamente na TV e no cinema é muito maior do que as que mostram situações de amor e carinho. Infelizmente, é um ambiente propício para episódios lamentáveis como esse.

Um dos poucos amigos do atirador revelou que o autor do massacre era "fissurado em terrorismo e conhecido como Al Qaeda".

Política antibullying

Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, deixou uma carta em que faz referência a questões de natureza religiosa. Ele pede para ser colocado em um lençol branco na hora do sepultamento e para ser colocado ao lado da sepultura da mãe. O atirador também pede perdão a Deus.

Amigos e conhecidos da família descrevem Wellington como uma pessoa extremamente retraída e isolada.

Para o psiquiatra infantil Gustavo Teixeira, o massacre de Realengo é apenas “a ponta de um iceberg” que esconde uma grande banalização da violência nas escolas. Autor do recém-lançado Manual Antibullying, ele critica a insegurança no cotidiano de estudantes e profissionais de educação.

- Não é um ato isolado. O clima de segurança já existe nas escolas, com episódios frequentes de agressão e até pela presença de arma de fogo. A escola deixou de ser prazerosa e interessante.

Para Teixeira, esse é o momento de “haver uma discussão de forma mais profunda” sobre a adoção de uma política antibullying. Ele ressalta que estudos mostram que quem sofre esse tipo de violência terá marcas para o resto da vida.

- A minoria, infelizmente, pode ter atitude agressiva contra colegas e a própria instituição, que, na concepção da vítima, nada fez para defendê-lo.

Trauma

O massacre de Realengo também vai deixar marcas profundas nas crianças e jovens que testemunharam tamanha violência em um ambiente em que deveriam estar protegidas. O terror de assistir à violência sem explicação contra amigos e colegas dificilmente será esquecido e deve causar o chamado estresse pós-traumático.O psiquiatra Marco Antônio Alves Brasil afirma que as crianças têm muito mais dificuldade em superar traumas do que adultos e vão precisar de atenção e tratamento.

- São fatos que vão muito além do que elas estão habitualmente acostumadas. Sobretudo no caso das crianças, é uma situação que vai muito além da capacidade de adaptação delas. Algumas terão problemas pra dormir, terão medo e falta de apetite, mas vão superar rápido. Em outras, o trauma vai persistir. Essas vão precisar de tratamento por mais tempo.

Entre os sintomas comuns nesse tipo de situação, estão ansiedade, depressão e fobia de ir à escola, que podem acometer também professores, funcionários e até familiares dos estudantes.

Entenda o caso

Por volta das 8h de quinta-feira (7), Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro, entrou no colégio após ser reconhecido por uma professora e dizer que faria uma palestra.

Armado com dois revólveres calibre 38, ele invadiu uma sala de aula no primeiro andar e outra no segundo, e fez vários disparos contra estudantes que assistiam aula. Ao menos 12 morreram, de acordo com levantamento da Secretaria Estadual de Saúde.

Duas adolescentes baleadas, uma delas na cabeça, conseguiram fugir e correram em busca de socorro. Na rua Piraquara, a 160 m da escola, elas foram amparadas por um bombeiro. O sargento Márcio Alexandre Alves, de 38 anos, lotado no BPRv (Batalhão de Polícia de Trânsito Rodoviário), seguiu rapidamente para a escola e atirou contra o abdômen do criminoso, após ter a arma apontada para si. Ao cair na escada entre o segundo e o primeiro andar, o jovem se matou atirando contra a própria cabeça.

Com ele, havia uma carta em que anunciava que cometeria o suicídio. O ex-aluno fazia referência a questões de natureza religiosa, pedia para ser colocado em um lençol branco na hora do sepultamento, queria ser enterrado ao lado da sepultura da mãe e ainda pedia perdão a Deus.

Os corpos dos estudantes e do atirador foram levados para o IML (Instituto Médico Legal), no centro do Rio de Janeiro, para serem reconhecidos pelas famílias. Os velórios e os enterros serão realizados a partir desta sexta-feira (8).

A Divisão de Homicídios da Polícia Civil concluiu a perícia na escola no início da noite de quinta-feira. O inspetor Guimarães, responsável pela análise, disse que o assassino deve ter atirado de maneira aleatória contra os alunos. A polícia está investigando se os estudantes que morreram eram do 8º ano de escolaridade (antiga 7ª série). A perícia deve confirmar que as vítimas atingidas estavam sentadas na primeira fileira da sala de aula.

Fonte: Notícias R7

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